sábado, 23 de julho de 2011

Para Refletir

Vou começar esse blog com uma reflexão retirada do Livro " O manual do guerreiro da Luz" de Paulo Coelho.
Mesmo depois de ter lido este livro varias e varias vezes, eu paro de vez em quando e me pergunto, se nos dias de hoje é realmente possível alguém ser um "guerreiro da Luz", é tanta correria, sobe e desce, relativas mudanças entre outras coias, que fica difícil você acreditar que pode ter uma meta traçada com tal dinamismo que lhe faça sentir-se totalmente seguro de seus atos. Ou até mesmo acreditar que tem tempo para aproveitar as coisas mais simples da vida, como por exemplo passear com o filho, sentir o vento no rosto, respirar fundo e olhar o sol nascer ou quem sabe ficar admirando por horas a beleza da Lua. Porém toda vez que leio esse Prologo do livro eu passo a sentir a vida entrar em mim de outra forma, e querem ter um tempo para essas pequenas coisas, na verdade eu tenho certeza que muitas mudanças boas em nossas vidas podem acontecer a partir do momento em que tirarmos esse tempo para nós mesmos.


“Na praia a leste da aldeia existe uma ilha, com um gigantesco templo, cheio de sinos”, disse a mulher.
O menino jamais a vira por ali; reparou que ela vestia roupas estranhas, e tinha um véu cobrindo os cabelos.
“Você já viu este templo? “ perguntou ela. “Vá lá e me conte o que acha dele”.
Seduzido pela beleza da mulher, o menino foi até o lugar indicado. Sentou-se na areia e olhou o horizonte, mas não viu nada além do que estava acostumado a ver: o céu azul que se juntava ao oceano.
Decepcionado, caminhou até um povoado de pescadores vizinho, para perguntar se já haviam escutado falar de uma ilha com um templo.
“Ah, isto foi há muito tempo atrás, no tempo em que os meus bisavós moravam por aqui” - disse um velho pescador. - “Mas houve um terremoto, e a ilha afundou no mar. Entretanto, embora já não possamos mais ver a ilha, ainda conseguimos escutar os sinos do seu templo, quando o mar os faz balançar lá no fundo”.
O menino voltou para a praia, e tentou escutar os sinos. Passou a tarde inteira ali, mas só conseguiu ouvir o ruído das ondas e os gritos das gaivotas.
Quando a noite chegou, seus pais vieram buscá-lo. Mas, na manhã seguinte, e ele voltou para a praia; a imagem da bela mulher não lhe saía da cabeça, e ele não podia acreditar que uma pessoa tão linda pudesse contar mentiras. Se algum dia ela voltasse, poderia dizer que não vira a ilha, mas escutara os sinos do templo, que o movimento da água fazia tocar.
Assim se passaram muitos meses; a mulher não voltou, e o garoto a esqueceu; mas continuava a se lembrar que havia um templo debaixo d’água, e num templo sempre existem riquezas e tesouros. Se escutasse os sinos, o menino teria certeza de que eles falavam a verdade; assim quando ficasse grande, poderia juntar dinheiro suficiente para fazer uma expedição e resgatar o tesouro ali escondido.
Já não se interessava mais pela escola, nem pela sua turma de amigos. Transformou-se no gracejo preferido das outras crianças, que costumavam dizer: “ele não é mais como nós. Prefere ficar olhando o mar, e evita jogar conosco, porque tem medo de perder”.
E todos riam, vendo menino sentado na beira da praia.
Embora não conseguisse escutar os velhos sinos do templo, o menino - a cada manhã - ia aprendendo coisas diferentes. Começou a perceber que, de tanto ouvir o ruído das ondas, já não se deixava distrair por elas. Pouco tempo depois, acostumou-se também com os gritos das gaivotas, o zumbido das abelhas, o vento batendo nas folhas das palmeiras.
Seis meses depois de sua primeira conversa com a mulher, o menino já era capaz de não se deixar distrair por nenhum barulho - mas tampouco escutava os sinos do templo afundado.
Outros pescadores vieram falar com ele, e insistiam: “nós ouvimos!”, diziam.
Mas o garoto não conseguia.
Algum tempo depois, os pescadores mudaram de conversa: “você está muito preocupado com o barulho dos sinos lá embaixo; deixa isto para lá e volte a brincar com seus amigos. Talvez apenas os pescadores consigam escutá-los”.
Depois de quase um ano, o menino resolveu desistir: “talvez estes homens tenham razão. É melhor crescer, tornar-me pescador, e voltar todas as manhãs para esta praia; então eu ouvirei os sinos.” E pensou também: “talvez isto tudo seja uma lenda, e - com o terremoto - os sinos se tenham quebrado e jamais tornem a tocar. “
Naquela tarde, resolveu voltar para casa.
Aproximou-se do oceano, para despedir-se. Olhou mais uma vez a natureza, e - como já que não estava mais preocupado com sinos - pode sorrir com beleza do canto das gaivotas, o barulho do mar, o vento batendo nas folhas das palmeiras. Escutou ao longe a voz de seus amigos brincando, e sentiu-se alegre por saber que podia voltar aos jogos de sua infância. Talvez rissem dele, mas longo esqueceriam o ocorrido, e o aceitariam de volta.
O menino estava contente, e - da maneira que só uma criança sabe fazer - agradeceu por estar vivo. Tinha certeza de que não perdera o seu tempo, pois aprendera a contemplar e reverenciar a Natureza.
Então, porque escutava o mar, as gaivotas, o vento, as folhas das palmeiras, e as vozes de seus amigos brincando, ouviu também o primeiro sino.
E outro.
E mais outro, ate' que todos os sinos do templo afundado tocaram, para a sua alegria.
Anos depois - já um homem - ele voltou à aldeia e à praia da sua infância. Não pretendia resgatar nenhum tesouro do fundo do mar; talvez aquilo tudo fosse fruto de sua imaginação infantil, e jamais escutara mesmo os sinos submersos. Mesmo assim, resolveu ir até a praia, para ouvir o barulho do vento e o canto das gaivotas.
Qual foi sua surpresa ao ver, sentada na areia, a mulher que primeiro lhe falara da ilha com seu templo .
“O que faz aqui? “ perguntou.
“Esperava você”, respondeu ela.
Ele reparou que - embora já muitos anos se tivessem passado - a mulher ainda conservava a mesma aparência; o mesmo véu escondia seus cabelos, e não parecia desbotado pelo tempo.
Ela estendeu-lhe um caderno azul, com as folhas em branco.
“Escreve: um guerreiro da luz presta atenção nos olhos de uma criança. Porque elas sabem ver o mundo sem amargura. Quando ele deseja saber se a pessoa ao seu lado é digna de sua confiança, procura ver como uma criança a olha”.
“O que é um guerreiro da luz? “.
“Você sabe”, respondeu ela, sorrindo. “É aquele que é capaz de entender o milagre da vida, lutar até o final por algo em que acredita, e - então - escutar os sinos que o mar faz tocar em seu leito”.
Ele jamais se julgara um guerreiro da luz. A mulher pareceu adivinhar seu pensamento.
“Todos são capazes disto. E ninguém se julga guerreiro da luz, embora todos sejam.”
Ele olhou as páginas do caderno.
“Que tal se você resolvesse falar um pouco disso?” perguntou. “Eu poderia anotar suas palavras”.
A mulher sorriu de novo.
“Foi para isto que eu trouxe o caderno”, ela disse. “Escreve”.